Dia Mundial da Saúde Mental. O papel do Serviço Social na promoção da equidade e do bem-estar

10/09/2025 O Dia Mundial da Saúde Mental convida-nos a refletir sobre os múltiplos fatores que influenciam o bem-estar psicológico e emocional das pessoas. A saúde mental não é apenas a ausência de doença, mas o resultado de um conjunto de condições sociais, económicas e relacionais que moldam as oportunidades de cada pessoa ao longo da vida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define os determinantes sociais da saúde (DSS) como “as condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, as quais são moldadas pela distribuição de rendimento, poder e recursos ao nível global, nacional e local”. Estas condições influenciam diretamente a oportunidade de uma pessoa ser saudável, o risco de adoecer e até a sua expectativa de vida. De forma convergente, a iniciativa Healthy People 2030 acrescenta a esta visão as dimensões ambientais e de ciclo de vida.

Neste contexto, as iniquidades sociais em saúde — as diferenças injustas e evitáveis no estado de saúde entre grupos populacionais — são frequentemente consequência da distribuição desigual desses determinantes sociais. Pessoas com as mesmas necessidades podem não ter acesso aos mesmos recursos (desigualdade horizontal), enquanto outras, em maior vulnerabilidade, continuam a dispor de menos apoios (desigualdade vertical).

A investigação tem demonstrado que a desigualdade social está fortemente associada ao aumento das perturbações mentais, mesmo em países desenvolvidos. Estudos indicam que níveis mais elevados de desigualdade de rendimentos estão correlacionados com maior prevalência de doenças mentais e menor capital social. Este fenómeno pode ser explicado pelos efeitos psicossociais da desigualdade — como a humilhação, o estigma e a perda de autoestima — que geram stress crónico e impactam a saúde mental de forma direta ou indireta.

A exclusão social, enquanto processo multidimensional, é também um fator determinante. Ela não deve ser entendida de forma binária (estar ou não excluído), mas como uma trajetória social e pessoal, marcada por privações económicas, educacionais, culturais, habitacionais e de participação cívica. A globalização e as transformações do mundo do trabalho têm acentuado esta dualidade entre “incluídos” e “excluídos”, reforçando vulnerabilidades e sentimentos de isolamento, perda de identidade e desvalorização social — todos eles elementos que se repercutem no equilíbrio mental.

Neste quadro, ganha relevância o contributo da investigação da Associação Quarto Mundo e da Universidade de Oxford, que ampliou a compreensão da pobreza, evidenciando que ela é não apenas uma condição material, mas também uma experiência humana de sofrimento, luta e resistência. As chamadas dimensões ocultas da pobreza, como o sofrimento do corpo, da mente e do coração, o desempoderamento e os maus-tratos sociais e institucionais, revelam o profundo impacto psicológico e relacional das desigualdades.

É precisamente neste espaço de interseção entre o social e o psicológico que o Serviço Social desempenha um papel fundamental. A intervenção dos/as assistentes sociais visa promover a justiça social, reduzir desigualdades e fortalecer os recursos pessoais e comunitários das pessoas em sofrimento. Ao reconhecer que a saúde mental é indissociável das condições de vida, o Serviço Social atua na defesa de direitos, na mediação com instituições, na mobilização de redes e recursos de apoio e na construção de percursos de inclusão.

As/os assistentes sociais têm acumulado conhecimento e experiência na intervenção na área da promoção da saúde mental, por isso, o Serviço Social foi e continua a ser uma profissão com potencial para contribuir para o enriquecimento do debate acerca dessa temática, principalmente na definição da política pública e nas estratégias de construção de redes sociais e institucionais de suporte.

Celebrar o Dia Mundial da Saúde Mental é, por isso, reconhecer que não há saúde sem justiça social. Promover a saúde mental implica enfrentar as desigualdades estruturais, garantir o acesso equitativo a recursos, combater o estigma e valorizar as histórias de resistência de quem vive em contextos de exclusão.
O compromisso ético e profissional do Serviço Social é, assim, essencial para transformar contextos de vulnerabilidade em oportunidades de dignidade, pertença e esperança.

Referências

— ATD Quart Monde & University of Oxford (2019). The Hidden Dimensions of Poverty. Oxford: Oxford University Press.

— Laparra, M., & Pérez Eransus, B. (2008). Exclusión social en España: Un espacio diverso y disperso en intensa transformación. Fundación FOESSA.

— Organização Mundial da Saúde (OMS) (2008). Closing the gap in a generation: Health equity through action on the social determinants of health. Geneva: WHO.

— U.S. Department of Health and Human Services (2020). Healthy People 2030: Social Determinants of Health. Washington, D.C.

— Wilkinson, R., & Pickett, K. (2010). The Spirit Level: Why Equality is Better for Everyone. London: Penguin Books.

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